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A importância de vivenciar a dor de uma perda: você se permitiu viver o luto?

  • Foto do escritor: Fernanda Sencades
    Fernanda Sencades
  • 1 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de mai.

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Perder alguém que amamos transforma profundamente nossa existência. O luto é um processo natural, mas muitas vezes mal compreendido — tanto por quem vivencia quanto pelas pessoas ao redor. Em uma sociedade que valoriza produtividade, positividade e rapidez, há uma tendência perigosa de apressar ou até evitar o enfrentamento da dor.


Mas afinal, você se permitiu vivenciar o luto? Ou tentou seguir em frente sem olhar para o que foi perdido? Neste texto, vamos explorar por que viver o luto é essencial para a saúde mental e emocional, e como a neurociência e a psicologia compreendem esse processo tão humano.


O que é o luto?


O luto é uma resposta emocional à perda, especialmente de alguém significativo, mas também pode ocorrer diante de perdas simbólicas: término de relacionamentos, mudança de cidade, perda de um emprego ou até de sonhos e expectativas.


Não é uma doença. É um processo adaptativo, que envolve emoções intensas como tristeza, raiva, culpa, confusão, alívio e saudade. Essas reações são naturais e fazem parte da reorganização interna que precisamos fazer para lidar com o que já não está mais presente.


Por que vivenciar o luto é importante?


Tentar “pular” o luto ou evitá-lo pode parecer uma forma de autoproteção, mas a dor reprimida não desaparece — ela se acumula e se manifesta de outras formas: no corpo, nas relações, no humor e até em adoecimentos psicológicos, como depressão, transtornos de ansiedade ou sintomas somáticos.


Vivenciar o luto permite que:


  • A dor da perda seja reconhecida e acolhida;

  • O vínculo com a pessoa ou o objeto perdido seja ressignificado;

  • Novos sentidos sejam construídos para a vida que continua.


Negar o luto é, muitas vezes, negar a importância do que foi perdido. Permitir-se sofrer é, paradoxalmente, um ato de amor — tanto pelo outro quanto por si mesmo.


O que a neurociência diz sobre o luto?


Do ponto de vista cerebral, o luto é uma experiência neurologicamente intensa. Estudos em neuroimagem mostram que, ao lembrar de alguém que morreu, o cérebro ativa áreas semelhantes às que são ativadas quando essa pessoa ainda está viva: há uma sensação de presença, que entra em conflito com a realidade da ausência.


Além disso, o sistema de recompensa, que envolvia a presença daquela pessoa como fonte de prazer e segurança, continua “ativado” após a perda, criando um vazio neurológico difícil de preencher. É por isso que o luto pode parecer, literalmente, como uma dor física — e de fato, as áreas do cérebro ativadas na dor emocional são semelhantes às ativadas na dor física.


Há também impacto no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, relacionado ao estresse: a perda ativa o sistema de alerta e pode aumentar a produção de cortisol, o hormônio do estresse. Isso explica por que, nos primeiros momentos do luto, muitas pessoas sentem cansaço extremo, dificuldade para dormir, alterações no apetite e lapsos de memória.


Mas o cérebro também é plástico e adaptável. Com o tempo e o enfrentamento adequado, novas conexões são formadas, e a dor começa a se transformar. A saudade continua, mas perde o peso sufocante que tinha no início.


As novas compreensões da psicologia sobre o luto


Durante muitos anos, o luto foi compreendido a partir de estágios fixos — como negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Embora esse modelo (proposto por Elisabeth Kübler-Ross) tenha sido um marco, a psicologia contemporânea entende o luto de forma mais flexível, não linear e personalizada.


Hoje, compreendemos que:


  • O luto não é igual para todos. Cada pessoa vive o luto de acordo com sua história, cultura, personalidade e tipo de vínculo com quem partiu.

  • Não existe um “tempo certo” para superar. O luto não tem prazo de validade. Alguns precisarão de semanas, outros de anos.

  • Não se trata de esquecer, mas de integrar. A ideia não é apagar a pessoa da memória, mas aprender a viver com a ausência, mantendo um vínculo simbólico saudável.

  • Rituais de despedida e memória são importantes. Funerais, homenagens e momentos de lembrança ajudam o cérebro a processar a realidade da perda e são essenciais na adaptação emocional.

  • O luto pode coexistir com momentos de alegria. Rir durante o luto não é desrespeito, é sobrevivência. Emoções opostas podem habitar o mesmo espaço interno.


Como enfrentar o luto de forma saudável?


Não existe fórmula mágica, mas algumas atitudes podem ajudar a tornar o processo menos solitário e mais respeitoso com a própria dor:


  • Permita-se sentir: Tristeza, raiva, saudade, confusão… todas as emoções têm função e precisam de espaço para existir.

  • Busque apoio: Conversar com pessoas de confiança ou participar de grupos de apoio pode fazer grande diferença.

  • Evite julgamentos internos: Não se cobre por “voltar ao normal” rápido demais. O luto exige tempo e gentileza consigo mesmo.

  • Crie rituais de homenagem: Escrever cartas, manter uma foto especial, visitar um lugar marcante… esses gestos ajudam a manter o vínculo de forma saudável.

  • Considere apoio psicológico: Um psicólogo pode ajudar a organizar o turbilhão de emoções e acompanhar o processo de forma empática e cuidadosa.


Reflexão final


Vivenciar o luto é um ato de coragem. É permitir-se atravessar um vale escuro com a esperança de que, em algum momento, a luz volte a aparecer — mesmo que diferente de antes. A dor da perda nunca some por completo, mas pode se transformar em memória, aprendizado e amor que permanece.


Negar o luto é negar uma parte de si. Vivê-lo é honrar a conexão, a história e a profundidade do que foi vivido.


Se você está passando por um processo de perda, lembre-se: você não precisa enfrentar isso sozinho. Cuidar da dor também é um gesto de saúde mental e de amor-próprio.

 
 
 

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